A Felicidade não se compra (It’s a wonderful life)

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A Felicidade não se compra (It’s a wonderful life) de Frank Capra, filmado em 1946 e   baseado no conto “The Greatest Gift”, de Philip Van Doren Stern, já inicia mostrando a que veio. As dezenas de preces implorando por ajuda a George Bailey, (interpretado por James Stewart)  sobem às alturas e  chegam aos ouvidos de quem de direito.O encarregado de receber estas súplicas e providenciar ajuda é São José, que administra o rodízio de anjos. No caso Bailey, a vez de prestar ajuda cabe a um anjo com pouco QI, mas muita vontade de conseguir as almejadas asas, o que somente ocorrerá se obtiver sucesso em sua missão de dissuadir George de acabar com a própria vida. Ele fica intrigado, sem saber os motivos pelos quais alguém abriria mão da maior dádiva concedida por Deus. E pelos olhos de Clarence passamos a conhecer George. Tomamos conhecimento, por exemplo, da vez em que ele, ainda criança, salvou o irmão mais novo da morte, ao pular dentro de um lago congelado. A façanha custou a George a audição de um dos ouvidos. Ou de quando trabalhava em uma farmácia, na mesma época, e evitou que o dono da mesma enviasse veneno ao invés de remédio para uma das encomendas.Ficamos sabendo das centenas de pessoas que ele auxiliou a ter casa própria através de sua pequena empresa, evitando que tivessem de recorrer ao magnata local Henry Potter (Lionel Barrymore) que, sem nenhum senso de comunidade, buscava apenas o lucro fácil à custa da exploração alheia.Qualquer semelhança com Ebenzer Scrooge, o personagem de Cahrles Dickens em Christmas Carol, certamente não é mera coincidência. Com a diferença de que para Potter não vem a redenção.

 

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Potter e sua “técnica”: cadeira mais alta que a do interlocutor

George Bailey era um sonhador. O personagem de James Stewart tinha ambições, como qualquer jovem quando estava com idade próxima dos 20 anos. Sonhava em construir coisas, em viajar o mundo inteiro. Sonhava fazer coisas importantes, desejava poder fazer a diferença. Esse era o objetivo principal da vida de George.

 Quando ia iniciar seu projeto, seu pai morre e ele acaba tendo que assumir a pequena empresa da família, ajudando seu tio trapalhão. Quem vai para a faculdade fora da cidade é seu  irmão. Depois o casamento, nascimento dos filhos e sucessivos acontecimentos vão mantendo George em Bedford Falls. E assim ele vai sendo obrigado a abrir mão de seus sonhos de viajar e realizar feitos grandiosos. Vai ficando na cidadezinha onde nasceu, enquanto seus amigos e seu irmão partem em direção a conquistas que ele sonhara. Mas George não é um ressentido, ele está feliz, com pouco dinheiro, muito trabalho, mas com uma família unida e concretizando ali mesmo no seu quintal o ideal de melhorar o mundo. No entanto, a ganância de Potter e a falta de inteligência do tio de George criam a situação que vai levá-lo à falência e total desonra. Na noite de Natal, ele decide acabar com a própria vida, para que sua família receba a apólice de seu seguro.

Quando está prestes a jogar-se nas águas geladas do rio da cidade, Clarence entra em ação, do jeito Clarence de entrar em ação, jogando-se na água para despertar os bons sentimentos de George, que o “salva”. Depois , ouvindo de George o desejo de nunca haver nascido, conversa com quem manda e atende o pedido. E, a partir daí, o filme leva à reflexão sobre como uma só pessoa pode afetar a vida de tantos.E  novamente o paralelo com Dickens. Clarence mostra a George como seria a cidade sem ele, à mercê de Potter,  como seria a vida de sua mãe com a perda do filho no acidente do lago congelado, a tragédia provocada pelo farmacêutico, pois não haveria a intervenção do não nascido e assim por diante.A ausência de George em Bedford Falls mostra como a vida de uma pessoa toca a vida de tantas outros.

 

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George e seu anjo atrapalhado

E George toma consciência de quanto sua vida era maravilhosa, mesmo com os problemas a serem enfrentados. Sob nova perspectiva, eles passam a ser pequenos ante a grandeza das conquistas de George como ser humano.  E ele volta para casa disposto a enfrentar qualquer situação.

A cena final é inesquecível com o tilintar que evidencia haver Clarence enfim conseguido suas asas e com a edificante mensagem: ninguém que tem amigos é um fracasso. Tudo isso embalado pela  maravilhosa “Auld Lang Syne“. Com um toque do que para muitos seria ingenuidade e idealismo ao extremo  o filme cumpre seu papel. Amizade, bem querer, reconhecimento, generosidade, em suma, tem presente o espírito de Natal que todos almejamos.E certamente após assistir A felicidade não se compra tentamos ficar melhores, mesmo que por alguns momentos. E talvez por isso  o filme continue encantando sucessivas gerações com suas tocantes cenas em preto e branco.

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Auld Lang Syne

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