“Os arroios são rios guris…
Vão pulando e cantando dentre as pedras.
Fazem borbulhas d’água no caminho: bonito!
Dão vau aos burricos,
às belas morenas,
curiosos das pernas das belas morenas.
E às vezes vão tão devagar
que conhecem o cheiro e a cor das flores
que se debruçam sobre eles nos matos que atravessam
e onde parece quererem sestear.
Às vezes uma asa branca roça-os, súbita emoção
como a nossa se recebêssemos o miraculoso encontrão
de um Anjo…
Mas nem nós nem os rios sabemos nada disso.
Os rios tresandam óleo e alcatrão
e refletem, em vez de estrelas,
os letreiros das firmas que transportam utilidades.
Que pena me dão os arroios,
os inocentes arroios…”
“Os arroios”
Mario Quintana
Quão triste ficaria o poeta ao saber que os arroios viraram sinônimo de esgoto! Pelo menos na região metropolitana de Porto Alegre , o termo usado para defini-los é “valão”, igualando-os às fossas abertas das periferias das cidades. E o pior é que, dadas as condições em que se encontram, esse termo não é totalmente indevido. Se visse hoje o estado em que os seus “rios guris” se encontram, Quintana repetiria apenas o final do poema: “Que pena me dão os arroios, os inocentes arroios…”
Com relação ao Arroio Araçá em Canoas, na Grande Porto Alegre, pode-se afirmar sem receio que a grande maioria da população não tem a mínima idéia de sua existência e muito menos de sua importância. Não sabem onde inicia, em que pontos cruza a cidade e onde deságua. Pior: não tem a mínima noção de que são afetados pela degradação. Não sabem que o arroio “valão” vai desaguar no local onde é captada a água que vão beber. Esta é a dura realidade. Enquanto isso, aqueles que sentiam-se incomodados com esta e outras situações envolvendo agressões à natureza limitavam-se a resmungar em seu pequeno círculo contra a inércia dos administradores e refugiavam-se na notória falta de consciência comunitária desta cidade sem identidade. “Em Canoas não adianta, é assim e pronto”- era o sentimento que imperava e ainda impera em alguns setores. E o meio-ambiente da cidade sofria cada vez mais.
Felizmente, essa mentalidade parece estar começando a mudar. Um grupo de pessoas interessadas em melhorar nosso meio ambiente criou o projeto Arroio Araçá – Nosso Rio Guri, que estuda o histórico e a importância do arroio na cidade. Com esta proposta, procuram sensibilizar os mais variados segmentos da comunidade para que sintam-se estimulados a fazer parte dessa luta pela preservação da vida. São encontros com educadores, alunos, políticos, e agora, utilizando a rede mundial de computadores, através de uma comunidade no Orkut.
O e-mail do projeto :
Não se iludam, porque este aspecto de arroio não é uma constante no trajeto do Araçá.
Em uma cidade onde a iniciativa em prol de assuntos comunitários (e, especialmente, ambientais) é algo raro, imperando nesses casos o “nem aí”, é muito bom saber que enfim existe esta mobilização. Mobilização que renova nossas esperanças de podermos citar Quintana quando falarmos, com a convicção de que estaremos retratando uma realidade. Por enquanto, apenas sonhamos com arroios “que conhecem o cheiro e a cor das flores que se debruçam sobre eles nos matos que atravessam e onde parece quererem sestear”.
O Projeto do Arroio Araçá busca desenvolver a Ecopegadogia inspirado em Paulo Freire: Educação, Esperança, Denucia e Anuncio. Ele pretende, através de um tema iniciamente ecológico e local, levantar questões que estão diretamente envolvidas e estimular a ética nas relações econômicas, políticas e sociais. Um dos desafios da Ecopedagogia é desenvolver a Cidadania Planetária a partir da vida, do dia a dia, a partir das necessidades e interesses das pessoas. Uma educação que mostre o sentido da caminhada na aprendizagem do cotidiano: agir localmente,pensar globalmente.
Aqui o Oprimido é o Arroio e nós somos os opressores a medida que a modernidade vem descartando o natural. A urbanização, por exemplo, substitue com seus atrativos artificiais a beleza natural das cidades. Em Canoas passamos pelo Arroio em vários pontos da cidade, não o percebemos, e, muitas vezes, quando é visto, é confundido com ‘valão’. Porque o tratamos assim? É preciso que sejam levantadas as problemáticas que o envolvem. Qualquer atividade que ajude o cidadão à perceber sua relação com o mundo que o cerca, é uma ‘Educação Ambiental’ e o Projeto do ‘RIO GURI’ vem fornecer elementos que despertem a percepção da comunidade canoense para suas belezas naturais.
Paulo Freire, Mario Quintana, Arroio Araçá é coisa nossa: vamos valorizar.
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O arroio Araçá é fonte de vida e biodiversidade que merece todo o nosso respeito.
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Devemos continuar a mostrar, divulgar o Arroio Araçá, assim como outros pontos naturais de Canoas. É preciso que as pessoas descubram a cidade para poder amá-la e cuidá-la.
A belaza de nossa cidade depende de nós.
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