Os tempos e sua voz

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Há muito tempo não lemos poesia. O mundo de hoje não o permite e não só pelo tempo que as futilidades nos roubam dos precisosos dias de vida. Não lemos poesia porque elas não parecem ter algo a nos dizer. Não achamos necessário desvendar os jogos verbais dos poemas, compreender as metáforas, degustar cada palavra como se fosse uma iguaria preparada por um chef talentoso. Nem sequer a musicalidade, ingrediente indispensável até à poesia mais popular, já não nos importa. Assim como o famoso “eu lírico” do poeta, que nos parece hoje de uma proximidade bem desagradável.

Neste sentido, o livro de Eliana Couto Triska, Os Tempos e sua voz, não parece ter a melhor das sortes em termos de público. É lamentável vaticinar um destino como esse para uma obra recém-lançada, mas não vejo alternativa. Ela tem o incontornável defeito de trabalhar a palavra na época da crise da palavra, como nos lembra um assustado George Steiner. Comete todos os equívocos: cuida da métrica e da musicalidade, deixa transbordar o eu, cede à inovação formal sem excessos, busca, enfim, o belo. É, em uma palavra, poesia – da melhor qualidade, para aqueles que souberem ouvir a voz de Eliane que já na epígrafe mostra a que veio:

No lar univérsico,

correntes de forças exóticas

traçam linhas vibratórias

que alcançam bordas,

limites não nomeados,

algo além da imaginação.

Nela ou fora dela, em qualquer ponto

há encontros…

P.S.: A autora  está autografando o livro na 54ª Feira do Livro, no dia 10 de novembro, 2ª -feira, às 17 horas, na Sala Oeste do Santander Cultural.

Onde encontrar:
Fenix21@terra.com.br

4 respostas em “Os tempos e sua voz

  1. Olá, Celso! Os amigos são generosos! Tão belas palavras endereçastes aos meus versos, que a emoção nem encabulou, se apresentou com todo o vigor. Muito grata pelo carinho! Muito interessante teu blog. Atual, crítico… Inscreves tua presença no mundo, partilhando teu talento. Parabéns! Abraço, Eliane

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  2. Olá!
    Li alguns registros blogados aqui, inclusive da presença de políticos em visita à 54ª Feira do Livro, como o prefeito eleito de Canoas, Jairo Jorge da Silva (também estamos esperançosos de uma administração ao inverso que a atual “cometeu” e que coloque a questão da cultura no seu devido patamar, pois por enquanto está aquém, muito aquém do lugar que deve estar) e do Senador Paulo Renato Paim.
    Só lamentei que sobre a poetisa canoense Eliane Couto Triska, tenha postado apenas a capa do livro e nenhuma foto dela autografando.
    Acredito que é também mostrando nossos escritores e poetas que os tornaremos valorizados, assim como, ao mesmo tempo, se estará valorizando a cultura.
    Pois é, é uma “Peninha”, aí “Zilraldo” da cultura, que só medalhões tenham merecido tal atenção. É preciso, e isso urge, que se comece a valorizar e reconhecer os “prata da casa”, caso contrário só forasteiros, como acontece na cada vez mais pobre Feira do Livro de Canoas, são reconhecidos, valorizados e prestigiados.
    Tenho quatro livros já publicados, mas jamais participei da Feira do Livro de Canoas, pois, como acontece com alguns escritores iniciantes, os livros são jogados a um canto ou debaixo do balcão da tenda, enquanto autores de fora são exibidos como verdadeiros “troféus”. Isso nada mais é do que preconceito contra gente que conhecemos, mas não acreditamos na sua capacidade, no seu talento e na sua criatividade.
    Como diz aquele apresentador sensacionalista, “Ou estou errado! Me ajuda aí, ô!”

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  3. ‘Apenas” a foto da capa? Questão de perspectiva do leitor.
    O blog retrata o que viu, não pode retratar o que não viu. E retrata sem preconceitos e sem preocupação com ” patrulhas”.
    Visitamos a Feira no final de semana e encontramos o prefeito que é depositário de nossa esperança. Deveríamos fingir que não o vimos? Encontramos Peninha ( do qual somos fãs). Deverímos fingir que não o vimos?Passamos na banca de autógrafos e lá estava o senador Paim, aliás “prata da casa”, sob um enfoque limitado. Talvez pela perspectiva do leitor deveríamos fingir que ele não estava lá. E Ziraldo é alvo de nossa admiração há muito tempo. Gostamos dele, sendo desimportante o local onde tenha sua base territorial.
    Não. Assim como fomos estimulados a escrever um post especial sobre este belo livro da Eliane( que mereceu mais destaque que os demais pelo simples fato de que lemos e gostamos da obra e não por ser ” prata da casa”. Seu livro tem qualidades que nos fizeram entender merecer ser alvo de nossa analise e indicação, independente de onde nasceu ou mora sua autora. O Perspectiva é assim , e seus mais de 500.000 acessos em pouco mais de um ano de atividades, nos fazem sentir muito a vontade para retratar a presença de pessoas na Feira, independente de ranço ideológico ou discriminação de qualquer espécie.
    Tudo questão de perspectiva de vida, de enfoque.Este blog é assim.Livre, sem amarras, conduzido pelo respeito e retratando os fatos que marcam nosso cotidiano de acordo com nossa visão de mundo.No entanto, “La perspectiva, si es real, exige multiplicidad”.Então respeitamos a posição do leitor, embora discordemos.

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